Custos e juros devem afetar venda de máquinas

Valor – Depois de recuarem 31,2% no Brasil entre 2010 e 2020, para cerca de 46 mil unidades, as vendas de máquinas agrícolas voltaram a crescer no ano passado – 26%, para 58 mil unidades – e tendem a continuar firmes em 2022, como aponta relatório divulgado nas últimas semanas pela Consultoria Agro Itaú BBA com base em dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Mas as altas de custos e juros tendem a limitar a recuperação.

Como já informou o Valor, em maio, segundo a Fenabrave, as vendas aumentaram 35,1% ante o mesmo mês de 2021 e atingiram 6,1 mil unidades, puxadas por tratores de rodas e colheitadeiras de grãos. Nos primeiros cinco meses de 2022, com isso, o total chegou a 20,2 mil unidades, com alta de 36,6% em relação a igual período do ano passado. Esse incremento, informou a entidade, reflete o aumento de renda dos produtores, em função dos elevados preços das commodities, e acontece a despeito da forte elevação de insumos como fertilizantes.

Ocorre que, como grande parte dos insumos para a safra 2021/22 foi comprada com antecipação, as margens dos agricultores foram preservadas e até ampliadas na temporada, cuja colheita de verão já terminou. Daí a demanda ainda aquecida neste primeiro semestre por novas máquinas, grande parte delas financiada com recursos do Moderfrota. Principal linha de investimento do Plano Safra, o Moderfrota deverá registrar contratações de cerca de R$ 6 bilhões neste ciclo 2021/22, que vai se encerrar no próximo dia 30.

Mas há preocupação entre fontes do segmento sobre o comportamento da demanda no segundo semestre, uma vez que, para a safra 2022/23, que começará a ser semeada em agosto, os custos vão pesar mais. A previsão é de redução de margens de lucro no campo, embora operacionalmente os resultados previstos por bancos e consultorias ainda sejam atraentes. Não se espera uma “derrocada”, mas um arrefecimento está no radar.

No cenário que traçaram, os analistas do Itaú BBA realçaram dados que indicam um esfriamento. Embalado pelas 58 mil máquinas agrícolas vendidas no ano passado, o faturamento do segmento de máquinas e implementos agrícolas alcançou R$ 38,3 bilhões, um crescimento de 40,3% ante 2020, conforme a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). E, segundo previsão da entidade levada em conta no estudo, a receita deverá somar R$ 40,2 bilhões neste ano – ou seja, um aumento de 5%.

Também as contratações de recursos do Moderfrota reforçam o cenário de crescimento menor. O montante de 2021/22, embora em linha com a estratégia do governo de deslocar mais recursos de grandes para pequeno e médios produtores, é o menor dessa recente retomada das vendas. Nas temporadas 2019/20 e 2020/21, quando o valor total também incluiu uma linha com recursos livres do Banco do Brasil, foram R$ 7,3 bilhões e R$ 7,5 bilhões, respectivamente. Para 2022/23, ainda não estão definidos nem o volume de recursos do Moderfrota nem os juros – que hoje estão em 8,5% ao ano e deverão subir com a alta da Selic.

Como a boa capitalização dos produtores rurais não é apenas um fenômeno brasileiro, as exportações de máquinas agrícolas do país, que atingiram o pico na segunda metade da década de 2000 e depois entraram em queda livre até 2020, também registraram alguma recuperação no ano passado. Foram US$ 236,6 milhões no total em 2021, de acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 23,4% mais que no ano anterior.

Conforme os dados da Anfavea destacados pela Consultoria Agro Itaú BBA, a maior parte das exportações continuou a ser direcionada à Argentina (US$ 25,4 milhões), mas o vizinho já foi um cliente bem mais relevante. Já as importações de máquinas alcançaram US$ 66,9 milhões em 2021, ante US$ 83,6 milhões em 2020, e as compras vieram sobretudo da União Europeia (participação de 28,8% do total) e dos Estados Unidos (25,7%).

Fonte: Valor (https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2022/06/17/custos-e-juros-devem-afetar-venda-de-maquinas.ghtml)