Guerra entre Rússia e Ucrânia: com valor do ferro gusa mais caro, fundições sofrem impacto inflacionário na produção no Centro-Oeste de Minas

Empresário de indústria de fundição em Divinópolis relata aumento de mais de 200% na compra do ferro gusa, matéria-prima para toda a cadeia produtiva da indústria. Veja o que dizem especialistas em gestão financeira e direito internacional.

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia tem provocado reflexos para diversos setores no Brasil. Com a redução na produção de ferro gusa no mundo, a matéria-prima ficou bem mais cara. Essa alta nos preços tem causado impacto direto para as indústrias do Centro-Oeste de Minas.

O atual cenário é diferente de tudo o que o empresário Kemel Rachid Delaretti já viu em mais de 40 anos trabalhando no setor em Divinópolis. A fundição dele tem 160 funcionários que atuam na produção ferrífera e a crise gerada pela guerra já reflete na empresa.

“A inconstância nos custos de produção tem preocupado muito”, apontou Kemel.

O empresário produz peças fundidas de ferro e aço e compra a matéria-prima do mercado nacional. Ele conta que, em 2020, chegou a pagar R$ 1.700 pela tonelada do ferro gusa, mas que depois do início da guerra entre Rússia e Ucrânia, comprou por R$ 6.200, ou seja, um aumento de mais de 200%.

“Por conta da pandemia e outros aspectos, o gusa tem subido de maneira muito agressiva e muito forte”, disse o empresário.

Brasil

O Brasil é o 3º maior produtor de ferro gusa do mundo, mas fica atrás dos principais que são Rússia e Ucrânia, que deixaram de fornecer o produto, principalmente para a Europa.

Os países têm buscado a matéria-prima no Brasil, mas por conta da demanda crescente, o preço subiu muito para as fundições nacionais. Só no mês de março as empresas do setor foram notificadas do aumento de 60% dos preços do ferro gusa, principal matéria-prima das fundições. O percentual é somado ainda a 41,6% de aumentos já praticados em janeiro e fevereiro.

Para o presidente da Associação Brasileira de Fundição, Afonso Gonzaga, faltam políticas voltadas para a indústria.

“O Brasil precisa de uma política industrial e nós não temos. Temos que exportar, é hora do mercado aproveitar, mas o mercado interno tem que ser protegido. Se a guerra terminasse hoje levaria no mínimo 120 dias para equacionar o mercado. Essa é a grande preocupação”, destacou Afonso Gonzaga.

O Brasil tem 970 fundições e 70 mil funcionários que trabalham no setor. São 237 empresas em Minas e 138 só na região Centro-Oeste. A preocupação é que mesmo que a guerra termine, a recuperação vai de fato, demorar.

“Há negociações em curso, mas composições bastante inflexíveis. Um eventual acordo de suspensão de atividades bélicas, o cessar fogo, é bem diferente de um acordo de paz”, pontuou o especialista em direito internacional, público e privado, Aziz Tuffi.

Pressão inflacionária

Para o administrador, especialista em gestão financeira e professor da Una em Divinópolis, Wagner Almeida, o maior impacto causado pela guerra em outros países como o Brasil é a pressão inflacionária. Veja o que ele diz:

“Indiscutivelmente o maior impacto é a pressão inflacionária provocada principalmente pela alta nos combustíveis, já que a Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo. Fato este também que afeta a oferta de vários produtos. Nesse cenário já turbulento em função do desequilíbrio provocado pela pandemia, as consequências para o Brasil serão maiores no comércio com a Rússia, pois ela está entre os maiores importadores dos produtos nacionais e para onde o Brasil também exporta muito principalmente produtos agrícolas, como soja e café e o próprio ferro gusa”, avaliou.

Por TV Integração – G1 (https://g1.globo.com/mg/centro-oeste/noticia/2022/04/06/guerra-entre-russia-e-ucrania-com-valor-do-ferro-gusa-mais-caro-fundicoes-sofrem-impacto-inflacionario-na-producao-no-centro-oeste-de-minas.ghtml)

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